Não poderia ser diferente.
A Inteligência Artificial Generativa dominou diversos palcos do Web Summit Rio 2023, considerado o maior evento global de tecnologia e inovação. Na primeira edição realizada na América do Sul, também houve espaço para debater a criatividade. Sim, a criatividade nos novos tempos da IA…
Em alguns momentos, o debate sobre IA girou em torno dos possíveis impactos sobre o trabalho como o conhecemos hoje, nos mais diversos segmentos. Em outros, já com depoimentos sobre como vem sendo testada e incorporada para gerar ganhos de escala, produtividade. O ápice foi uma demonstração ao vivo e a cores de como a ferramenta viabiliza a criação de um aplicativo em exatos 18 minutos _ no palco principal do evento, diante dos olhos de três mil pessoas!
Curioso ouvir e montar um mosaico sobre o tema a partir de depoimentos e vivências tão variadas, de engenheiros, programadores, designers, jornalistas, publicitários e criadores. Os dois primeiros grupos, claro, entusiasmados com o novo paradigma no regime tecnológico que a IA generativa vai estabelecer. Os demais reforçando o alerta de que a criatividade, o senso crítico e as conexões humanas vão ser, cada vez mais, a fonte de geração de valor e de diferenciação das empresas e dos profissionais.
Ou seja, a altura da barra vai subir muito. “Quem souber usar IA melhor que a gente poderá levar os nossos empregos”, disparou Alex Collmer, CEO da start up VidMob. Assim como ouvimos no SXSW, em Austin, março passado, o caminho é aprender e definir como usá-la com transparência para incorporar os seus benefícios, sem abrir mão da nossa habilidade lógica e palavra final.
No painel “ChatGPT vai matar o jornalismo?”, o mediador Steve Clemons – editor do site americano Semafor – abriu a sessão fazendo a pergunta para a própria ferramenta, que nos brindou com um “não” numa resposta embolada e recheada de clichês. Em seguida, convidou os colegas do painel a falarem sobre o uso do ChatGPT na produção de conteúdos jornalísticos.
“Vejo a IA como uma assistente, para delegarmos tarefas repetitivas. Mas precisamos discutir padrões éticos sobre o uso”, afirmou Laura Bonilla, editora da agência de notícias AFP na América Latina, reforçando: “Precisão é tudo no jornalismo. As pessoas precisam ter a palavra final”. Greg Williams, diretor editorial da revista Wired, foi enfático: “ChatGPT não tem qualquer relação com a verdade. Ela se alimenta da internet, onde há muita informação errada”.
“É como diz o ditado: o que não nos mata, nos fortalece. As singularidades que só os profissionais têm vão se destacar. Os pontos de vista, o olhar crítico, as fontes que cada jornalista tem, os seus relacionamentos”, pontuou Paula Mageste, CEO da Editora Globo Condé Nast.
Os debates foram animados também sobre os impactos nos processos de criação da comunicação e do marketing. Mesmo em diferentes palcos, palestrantes acabaram convergindo: criatividade é sobre conexão humana, sobre gerar vínculos únicos e emocionalmente relevantes. Beber das novas possibilidades das tecnologias emergentes, sim! Mas acreditar que elas, sozinhas, vão entregar as soluções, não!
“Criatividade é sobre colocar pessoas no centro, é pensar no que poderia ser, no que deveria ser”, afirmou o australiano David Droga, CEO da Accenture Song e fundador da agência Droga5, que foi ovacionado ao declarar: “Pessoas lógicas fazem o mundo girar. Pessoas criativas fazem o mundo valer a pena!”. Criatividade para muito além da comunicação.
Brian Collins, um dos designers mais prestigiados do mundo, contextualizou: “a criatividade sempre encontra um caminho (diante das novas tecnologias)”. Carismático, ele engajou a plateia ao lançar balinhas para quem estava nas primeiras filas _ no melhor estilo do Chacrinha, o velho guerreiro _ para sustentar a sua fala de que o digital não pode ser a única forma de promover um momento único de interação entre as pessoas.
Já Lia Rizzo, jornalista e cofundadora da rede Tempo de Mulher, em outro painel, trouxe para a mesa a vertente essencial para qualquer debate sobre evolução e inovação: “criatividade é conexão. E, por isso, passa pela diversidade, pela inclusão”.
Foi muito importante ter visto e ouvido tantas vozes femininas potentes no território do Web Summit Rio 2023. Não dá para encerrar esse artigo sem falar também da jovem líder indigenista Txai Suruí, que defendeu a aliança do conhecimento ancestral com a tecnologia para a proteção da floresta e do clima. Ou da empreendedora, jornalista e ativista Monique Evelle, que cobrou a equidade na remuneração dos grupos sub-representados no mercado de criadores.
Na audiência, a ocupação feminina também foi significativa, para um evento de tecnologia, certamente impulsionada por iniciativas como a Women in Tech, que ofereceu ingressos com 75% de desconto. Mas a presença majoritariamente branca nos estandes e plateias deixou um grande dever de casa para a próxima edição do Web Summit Rio, já anunciada para abril de 2024.
Carina Almeida, Adryana Almeida e Bianca Arman, que correram a maratona do Web Summit Rio