Urgência e escala deram o tom do debate sobre sustentabilidade no SXSW 2023, especialmente quando o foco era combate ao caos climático.
No painel “Crise Climática X Cultura do Consumo: como mudar”, a consultora Ashlee Piper _ autora do livro que se tornou a “bíblia” sobre sustentabilidade nos EUA , “Give a Sh*t: Do Good, Live Better, Save the Planet” _ foi enfática ao resumir: “o planeta é O nosso stakeholder”. Essa frase me impactou bastante e acabei ouvindo-a novamente, no dia seguinte, do CEO da Patagonia, Ryan Gellert, sobre o qual também falo nesse artigo.
Voltando à Piper, ela defendeu a necessidade de as empresas comunicarem melhor o que estão fazendo de concreto em sustentabilidade, com mais clareza e consistência _ essenciais para as marcas conquistarem a confiança das pessoas, especialmente depois da onda de utilização irresponsável de termos indevidos ou descolados da realidade, como “green” e “planet friendly”. Ao seu lado, o Head de Sustentabilidade Corporativa da Samsung, Mark Newton, complementou: “Precisamos falar mais sobre o porquê estamos fazendo, do que simplesmente contar o que estamos fazendo”.
Ashlee Piper destacou ainda a crença “no comportamento individual gerando transformação coletiva”. Nesse sentido, avalia como positivas iniciativas promovidas pelas empresas na direção de também auxiliar as pessoas a se engajarem e contribuírem positivamente no seu cotidiano _ como é o caso de aplicativos lançados por empresas de energia que permitem às pessoas checarem o seu consumo diário e a sua pegada de carbono.
A mudança do comportamento individual também foi abordada pelo CEO da Patagonia, Ryan Gellert, que ocupou o auditório principal do SXSW, entrevistado brilhantemente por Katie Couric, jornalista premiada e a primeira mulher a ancorar sozinha um noticiário de TV nos Estados Unidos.
“Pense em você como dono que você compra e não como consumidor”, afirmou o executivo, depois de ter falado longamente sobre a responsabilidade das empresas para o caos climático. “Criamos os problemas e não há como serem resolvidos sem que as empresas assumam responsabilidade. É como digo aos meus filhos: se fez a bagunça, então arrume”, afirmou Gellert, sendo ovacionado pela plateia nesse momento e em vários outros ao longo do painel.
O executivo _ que entrou na empresa em 2014 e é CEO desde 2020 _ contou sobre as diversas iniciativas da empresa, que vão desde oferecer, nas lojas, conserto das roupas vendidas por prazo indefinido e recompra de peças usadas até a criação de uma coalisão com outras marcas de vestuário e calçados para buscarem soluções mais sustentáveis para todo o setor e a sua cadeia produtiva. Indo além do negócio e do setor, a companhia doou áreas enormes na Patagônia chilena e argentina para instituições conservacionistas dos dois países e desenvolveu projeto de proteção de rios na Albânia.
E, perguntado pela jornalista sobre a questão do comportamento individual, de cada um de nós, Gellert se disse preocupado com a apatia que ele avalia tomar conta da maioria das pessoas. “Perdemos o direito de sermos pessimistas, sentar e dizer o que não dá para fazer”. Para o CEO da Patagonia, “as pessoas importam, mas não sabem o que fazer”.
Diante disso, Gellert compartilhou uma reflexão interessante para se sair dessa inércia. “O que o mundo precisa? No que sou bom? O que me deixa feliz? Entendo que é nesta intersecção que as pessoas podem avançar”, sugeriu o executivo, sendo longamente aplaudido, mais uma vez.
Mas não poderia terminar este artigo sem comentar mais sobre Katie Couric. A jornalista também é co-fundadora do projeto “Stand up to Cancer”, que já arrecadou, desde 2008, mais de US$ 700 milhões aplicados em pesquisas que contribuíram para o desenvolvimento de nove terapias para o tratamento da doença, todas aprovadas pela FDA, a agência reguladora dos EUA.
Katie, pelo visto, encontrou a sua intersecção.
Fica a dica!
Carina Almeida, CEO & Fundadora da Textual