Se tirar o hype da IA, o que sobra? Os usos ferramentais da tecnologia

Mais que um Chat GPT respondendo perguntas e alucinando de vez em quando, o uso da IA pode ser aliado na produção e apuração de pautas. Longe de serem grandes entidades cibernéticas que resolvem nossos problemas, a IA generativa é uma ferramenta e nada mais.

Esse foi o tom da conversa em um dos painéis do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji, no mês de Julho. Mediado por Carolina Moreno, diretora da Abraji e jornalista especializada em dados, a mesa foi composta por Nikita Roy, Cientista de dados, jornalista e futurista de IA reconhecida em Harvard e Johnatan Soma, Professor de Prática Profissional no Jornalismo de Dados e diretor do Programa de Graduação em Dados em Columbia Journalism School.

A mesa, que se deu em formato de perguntas e respostas, trouxe ótimas ideias para o uso de IAs de forma ética e vantajosa para o jornalismo, mas que podem facilmente serem extrapoladas para os mais diversos campos. É importante notar que cada IA tem seus pontos fortes e saber como usá-las vai agilizar muito nosso trabalho. Muitos exemplos foram levantados e gostaria de compartilhar e comentar alguns.

Tem IAs e IAs

 Nikita Roy explicou que é possível olhar para IAs generativas de duas formas: as que ajudam na busca de conhecimento; e as que auxiliam na automação de processos.

O Chat GPT, por exemplo, é utilizado de forma generalista e, muitas vezes, como fonte de conhecimento, o que não é recomendado, já que ele costuma alucinar muito e traz informações muitas vezes errôneas. Um melhor uso seria para automatizar processos, como roteiros, planejamento, resumos e etc. Claro que sempre com revisão humana, nenhuma dessas tecnologias vai substituir a sensibilidade humana.

Para busca de conhecimento o Perplexity pode ser mais indicado. Um chatbot que foi desenvolvido para funcionar como um mecanismo de busca em tempo real na internet, ele traz informações mais recentes que o GPT e já é o queridinho de acadêmicos e repórteres da área de ciências.

Se estiver com dificuldades para montar uma planilha no Excel ou uma apresentação no Powerpoint, então o Copilot é a ferramenta que vai te ajudar. Integrado aos serviços da Microsoft ele vai encontrar soluções mais eficazes do que jogar as dúvidas em um prompt de algum outro chatbot.

Ferramenta similar existe para quem utiliza os serviços da Google. Além de ajudar quando emperramos com funções ou para automatizar planilhas, o Gemini pode ser um excelente aliado para quem programa pelo Google Colab. Saber o que perguntar no prompt vai poupar muito tempo nas linhas de programação.

Desmistificar a IA é uma tarefa contínua

 Saber que a IA é uma ferramenta popular hoje em dia pode nos ajudar a convencer nossas equipes de trabalho do porquê devemos saber usá-las. Nikita pontuou que se nossa audiência está fazendo uso de IA no dia a dia, como produtores de conteúdo, devemos saber quais são esses usos, como e onde aplicá-los.

Perguntados sobre os perigos do uso indevido da IA para a substituição de mão de obra, ambos concordaram que, por mais que exista a disputa no campo da regulamentação, não podemos deixar de lado a importância de aprender sobre essa tecnologia e fazer o melhor proveito dela.

Quando provocados por Carolina Moreno sobre o que aquela mesa estaria debatendo se fosse realizada dez anos no futuro, Soma disse que nos questionaríamos porque investimos tanto dinheiro em algo como a IA algo que é apenas uma ferramenta e assim deve ser encarada.

O texto da 404 Media resume bem e vai além. Para quem tem acompanhado as notícias sobre IA com algum ceticismo já notou que, do ponto de vista especulativo no mercado financeiro, a IA não é mais a bola da vez. A matéria diz que o “artigo da Sequoia Capital, um dos maiores investidores em IA generativa, apontando que as empresas de IA generativa precisarão gerar $600 bilhões em receita apenas para pagar o custo do poder de processamento e infraestrutura que a IA generativa exige uma cifra que elas ainda estão longe de alcançar no momento”.

O hype na IA é insustentável, tanto do ponto de vista de especulação financeira, como oráculo divino, ou mesmo como ameaça insuperável da máquina sobre o humano. A IA generativa é uma tecnologia que deve ser dominada e aplicada como ferramenta para cada situação.

Bruno Borges

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