Há 20 anos, quando o atleta grego Nikolaos Kaklamanakis acendeu a pira dos Jogos Olímpicos de Atenas, o mundo pode acompanhar o início do megaevento esportivo pelo meio de comunicação protagonista da época, a televisão. A internet, claro, já fazia parte do cardápio de comunicação dos Jogos, mas sem a força e as múltiplas vertentes que veremos agora em Paris 2024.
O que vemos a cada edição dos Jogos reflete a transformação da comunicação. Acompanhei isso de perto na nossa trajetória de projetos da Textual para sete edições dos Jogos Olímpicos. Em 1996, em Atlanta (EUA), a Kodak ainda reinava no Centro de Imprensa, com um serviço de revelação de filmes para os milhares de fotógrafos credenciados. A internet era incipiente, a ponto de, no centro de imprensa que montamos com a Coca-Cola Brasil, em Miami, subsede do futebol olímpico, a oferta de um e-mail aos jornalistas foi daquelas novidades que boa parte deles mal sabia o que fazer com ela…
Em Sidney 2000, o projeto pioneiro de conteúdo que criamos para o COB já era todo baseado na transformação do site do Comitê numa grande agência de notícias, atualizada em tempo real. Enquanto isso, o serviço da Kodak minguava até desaparecer em 2008, em Pequim, em função das máquinas digitais e a transmissão direta dos locais de competição.
Já nos Jogos Rio 2016, a integração com as mídias sociais era uma realidade. E fizemos uso disso, por exemplo, no Revezamento da Tocha Olímpica, para o qual montamos uma operação com 17 canais digitais, em três idiomas, junto com o Comitê Organizador. Essa produção maciça de conteúdo para as mídias sociais, ao longo dos 90 dias, integrada ao trabalho com imprensa nacional e regional, foi chave para garantir o engajamento da população para a passagem da Tocha, aquecendo a atenção para os Jogos.
A edição de Tóquio 2021 deu mais passos na direção da cobertura multiplataforma. Segundo dados da Comscore, as emissoras brasileiras que transmitiram os Jogos para o nosso país somaram mais de 50,9 milhões de ações (menções, curtidas, compartilhamentos) e 34 milhões de audiência total em redes sociais. Ou seja, cada vez mais, as pessoas querem fazer parte do que assistem, compartilhando, comentando, em qualquer lugar, a qualquer tempo.
E o que acontece quando se junta um público hiper conectado com transmissões na palma da mão? Os números de Paris nos dirão. Mas, sem dúvida, já podemos afirmar que a cobertura dos Jogos de 2024 terão uma cara diferente aqui no Brasil. Com o fim da exclusividade da TV Globo na web, entra em cena, por exemplo, a Cazé TV, pelo YouTube e Twich. Já o Comitê Olímpico do Brasil, pela primeira vez, investiu forte nos creators. Seja pela parceria com influenciadores que serão padrinhos da delegação brasileira, seja pelo projeto em conjunto com a Play9, o objetivo é o mesmo: possibilitar que novas histórias sobre o Brasil nos Jogos sejam contadas nas mídias sociais, de forma mais descontraída, a partir de novos ângulos, para atrair novas audiências.
Os próprios atletas também desempenham papel crescente de produtores de conteúdo. Tanto que o Comitê Olímpico Internacional, nos últimos anos, flexibilizou as regras sobre o que os atletas podem postar nos seus perfis pessoais ao longo de sua participação nos Jogos, conforme podemos verificar no IOC Social and Digital Media Guiidelines – Paris 2024.
Estamos felizes em contribuir para essa maior diversidade de olhares na cobertura de Paris 2024, com o projeto desenvolvido pela DiversaCom, vertente de diversidade da Textual, e a Alma Preta. A agência de notícias focada na temática étnico-racial, que conta com mais de 600 mil seguidores no Instagram, será o primeiro veículo de mídia negra do país a cobrir uma edição dos Jogos Olímpicos.
Antes de sua chegada a Paris, a equipe da Alma Preta participou de um programa de imersão, com visitas ao Centro de Treinamento do COB e palestras com jornalistas que já cobriram diversas edições dos Jogos. No pós-Jogos e última fase do projeto, haverá ações de compartilhamento dessa vivência com estudantes e veículos periféricos de todo o país. Ou seja, cobertura olímpica gerando também legado.
Mais plataformas, novos olhares. Isso vale também, claro, para as marcas patrocinadoras, com envolvimento direto com os Jogos. Mais canais, mais formatos viabilizam novas conversas, com novas audiências. Isso é excelente!
O importante é apenas resguardar a essência que, entendemos, deve guiar todos os projetos de ativação, em qualquer plataforma: o respeito ao esporte, que é o centro de tudo nos Jogos Olímpicos, e à fronteira entre a descontração e a desinformação. Uma vez preservada essa essência, é navegar na criatividade e na emoção que só o esporte proporciona!
Carina Almeida, Sócia-presidente da Textual