Existe um antes e depois da pandemia no que diz respeito ao papel e investimento das empresas no Brasil – principalmente as privadas – sobre responsabilidade social, sustentabilidade, diversidade, equidade & inclusão e governança. Ouvia-se falar em áreas e departamentos de RSC (responsabilidade social corporativa) e sustentabilidade dentro das companhias, mas pouco via-se sobre um plano integrado, que pudesse criar ações sociais, ambientais e de governança de curto, médio e longo prazos e que tivessem um impacto significativo e consistente na sociedade e no planeta. É nesse cenário que o ESG aparece como uma medida importante para mudar essa chave.
Frequentemente presente no vocabulário corporativo dos executivos, ESG é uma sigla em inglês com as iniciais de environment, social and governance e, na tradução para o português, corresponde às práticas de sustentabilidade, ações sociais e de governança das empresas. O termo foi criado em 2004, quando o então secretário da ONU Kofi Annan convidou mais de 50 CEOs das principais instituições financeiras do mundo a fazerem uma reflexão sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança ao mercado de capitais. A partir da publicação Who Cares Wins (em tradução livre: Ganha quem se importa), do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, o termo foi utilizado pela primeira vez, em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
De lá para cá, a sigla passou, aos poucos, a ser usada no lugar de sustentabilidade em vários fóruns de discussão, relatórios, pesquisas e eventos. É uma forma de mostrar o que as empresas estão fazendo para serem ambientalmente sustentáveis, socialmente responsáveis e com uma gestão transparente.
Talvez esta seja uma importante demanda que a pandemia nos trouxe: uma reflexão profunda do nosso papel para a sociedade, e que vai além da nossa atuação como indivíduo, mas como organização. É uma oportunidade de rever os valores e propósitos e o que estamos fazendo e deixando de legado para o futuro do planeta. Por isso, práticas de ESG nas empresas deixaram de ser um nice to have para o must have. Consumidores e investidores estão cada vez mais seletivos, atrelando suas decisões a compromissos assumidos pelas empresas nos aspectos ambientais, sociais e de governança e, portanto, querem organizações com propósitos claros e definidos, que passam por ações sociais e sustentáveis na prática.
Uma pesquisa comandada pela Verizon Media, consultoria especializada em conteúdo, publicidade e tecnologia, revelou que o meio ambiente, questões políticas e pautas sociais são os três temas de maior atenção para a Geração Z.
No último ano, discussões sobre o ESG em redes sociais cresceram mais de sete vezes. Enquanto isso, 84% dos representantes do setor empresarial afirmaram que o interesse por entender mais sobre a agenda ESG e os seus critérios aumentou no ano de 2020. Além disso, 210 novas organizações passaram a se comprometer com os “Dez Princípios” e com os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” da ONU, segundo estudo realizado pelo Stilingue e a Rede Brasil do Pacto Global.
Com tudo isso é cada vez mais claro que as ações de ESG nas empresas precisam estar atreladas às suas estratégias, ao seu modelo de negócio e ao seu propósito, este então de uma forma genuína para que seja, de fato, sustentável. Não há mais espaço para o discurso bonito e ações isoladas, pontuais e oportunistas. É necessário atitude e planejamentos consistentes com transformações efetivas para a sociedade e para o planeta. Ações e iniciativas que tragam resultados práticos e significativos para os diversos stakeholders que esperam e cobram das organizações.
Além de inúmeras pesquisas já demonstrarem o benefício financeiro para o negócio que o ESG traz – aliado à uma equipe com diversidade de pensamento, cultura, raça, etnia, gênero, orientação sexual, e tantos outros grupos de minoria que são sub-representados – dar voz a esta pauta fortalece não só o negócio, mas também a reputação de uma companhia. E quando se fala em imagem, reputação e credibilidade de marca, sabemos como ela agrega valor para todos os stakeholders e é fundamental para a sua sobrevivência diante de um mercado cada vez mais competitivo, ágil e com informações de todos os lados. Essa prática, fortalece a companhia como marca empregadora, além de atrair cada vez mais investidores e consumidores, binômio fundamental para o sucesso de qualquer negócio.
Então, ESG não é apenas modismo e sim uma estratégia de negócio para as empresas de todos os níveis e tamanhos. As organizações que não acelerarem estas iniciativas e colocarem prioridade nesta agenda, poderão comprometer para sempre o resultado do seu negócio.
Samantha Leiras