O Jornalismo de Dados ou Jornalismo Guiado por Dados é um campo que vem se desenvolvendo desde os anos 60 no mundo todo com o Jornalismo de Precisão – termo cunhado por Philip Meyer – e no Brasil com muito mais intensidade nos últimos anos. Matérias de muito impacto social já mostraram o valor do DDJ (Data Driven Jornalism na sigla em inglês) em pautas investigativas e até no jornalismo diário. Mas ainda há um aspecto incipiente da produção de notícias no campo jornalístico. São as agências de comunicação que começam a explorar as ferramentas de análise de dados para cooperar na produção de pautas de interesse público.
Com o aumento exponencial da geração de dados na sociedade, profissionais com habilidades estatísticas e domínios de ferramentas de análise são cada vez mais requisitados. O jornalista que trabalha pautas guiadas por dados tem sido um agente chave para lidar com os desafios impostos por essa inundação de dados e metadados seja em uma redação, seja em uma agência.
O jornalista de dados lotado em uma agência de PR se envolve na produção de notícias no estágio de investigação e apuração da pauta. É aí que as habilidades de um profissional de dados ganham destaque. Comunicar nunca esteve tão dependente da identificação do que é e não é uma informação.
Na investigação e apuração de pautas, com o aumento do acesso a dados abertos na área de Educação, por exemplo, é possível vasculhar dados dos Censos de educação básica e superior, Ideb, Enem, Enade, Encceja, PNE, só para listar alguns exemplos de dados públicos e oficiais. Com habilidades conhecidas como Low Code e a ajuda de um editor de planilhas, o jornalista pode observar séries históricas e analisar tendências, procurar por discrepâncias e antecipar pautas. É um trabalho que leva tempo, mas que pode ser recompensador.
Os exemplos não se limitam ao campo da educação, é claro. Na área de economia e finanças, além de dados abertos é possível elaborar pautas a partir de relatórios de organizações e institutos especializados. É comum explorar pautas a partir de informações exclusivas e dados captados junto ao cliente, mas quando temos na caixa de ferramentas a capacidade de analisar dados externos de fontes oficiais as possibilidades se amplificam para todas as áreas.
Existem diversas iniciativas no jornalismo que buscam compilar bases de dados de uma infinidade de áreas para consulta. A depender do tamanho da base de dados editores de planilhas e habilidades low code não serão suficientes. Com conhecimento em SQL é possível consultar uma quantidade imensa de dados. Pensemos no setor de nutrição, dados abertos oficiais do governo podem levar à descoberta de pautas sobre a alimentação de brasileiros em cada canto do país. Podemos restringir a uma região específica, aplicar filtros de faixa etária e não ficar reféns de um dado consolidado. Aliado aos dados podemos habilitar fontes de clientes para comentar os achados.
Outras habilidades valiosas estão nas linguagens de programação. As mais comuns para jornalistas tem sido R e Python. Com uso de linguagens de programação é possível cruzar bancos de dados, fazer raspagem em sites e gerar novas bases de dados. O profissional em uma agência com esse preparo pode revisitar os processos das redações e revisar os códigos verificando a possibilidade de aplicação em outros casos similares.
Nos KPIs e relatórios saber calcular e qual a diferença entre média, mediana e moda; identificar padrões estatísticos; e saber interpretar o que é uma correlação e o que é uma causalidade pode ser determinante na elaboração de estratégias de comunicação.
O jornalismo guiado por dados tem se mostrado uma tendência no jornalismo brasileiro. Cada vez mais as redações buscam profissionais com essas habilidades para explorar novas perspectivas em diferentes editorias. A Textual em apoio ao 18º Congresso Abraji pôde testemunhar o aumento na presença de cases que tinham técnicas de dados em diversas editorias. Dos quatro dias de congresso, um foi inteiramente dedicado a palestras e oficinas que tinham no jornalismo de dados o ator principal para elaboração da pauta.
São as potencialidades somadas à necessidade que faz do jornalismo de dados uma tendência no fazer jornalístico e é crucial que assessores de comunicação estejam preparados para lidar com dados ao elaborarem pautas de interesse público.
Bruno Borges