Preparados ou não, a era da inteligência artificial chegou e está invadindo o nosso feed. Por hora, até nos enganando através de imagens e áudios falsos, mas que parecem reais. A verdade é que, para o bem ou para o mal, estamos atentos a presença desse tipo de conteúdo. Com a mesma recorrência que a frase “será que é fake news?” passou a fazer parte da nossa vida, “será que é IA?” também tem feito. Isto porque essa tecnologia consegue trazer um nível de sofisticação a estratégias que antes eram baseadas exclusivamente na autenticidade e criatividade humana. Movimentando, inclusive, a profissão que nasceu no digital, guiada por essa mesma autenticidade e criatividade humana: a influência.
Em um mercado onde 68,7% dos creators trabalham sozinhos e sem equipe¹, nada mais justo do que contar com uma mãozinha artificial extra. É isso que muitos criadores têm feito: seja para legendar um vídeo, para ajudar com ideias para um roteiro de conteúdo, ou para qualquer outra forma de otimizar e potencializar a produção de conteúdo, a IA tem sido útil.
Mas, quanto mais parte do dia a dia a IA tem se tornado, mais cuidado os criadores precisam tomar para ela não minar sua criatividade. Influenciadores que tentarem sugar até a última gota do líquido mágico dessas ferramentas ou chatbots, e confiar em absolutamente tudo o que bebem de lá, podem esbarrar em problemas de autenticidade e até questões legais e éticas. Saem na frente aqueles que entenderem a IA como meio de potencializar a criação de conteúdo, mas mantendo o fator humano que os conectam com a comunidade: sua própria personalidade e originalidade.
Mas é claro que podemos pegar o caminho totalmente oposto e excluir o fator humano da equação. O resultado? Influenciadores criados por IA. Não, esse não é o roteiro de um filme que questiona a evolução na relação entre robôs e humanos, mas há quem acredite que influenciadores podem ser substituídos por aqueles gerados por IA.
Podemos ver alguns exemplos na prática, como é o caso da Aitana Lopez, uma influencer digital criada pela agência The Clueless. O seu criador e fundador da agência Rubeñ Cruz teve a ideia depois de ter problemas em trabalhar com modelos e influenciadoras reais. Então, foi lá e criou o avatar de uma mulher de 25 anos, magra, branca e de cabelos cor de rosa – o que traz um pouco mais de personalidade a sua aparência perfeita (uma fusão de rostos que tenho a impressão de que já vi na internet). Para os seus mais de 280 mil seguidores, Aitana se mostra interessada em games, exercícios físicos, e exibe até o amor pelo seu pet, um gatinho preto chamado Neo. O conteúdo é interessante o suficiente para que a influenciadora – ou Rubeñ – fature mais de R$ 54 mil por mês com publicidade.
Outro caso é do CRI.A, influenciador de IA criado pela Digital Favela, desenvolvido pelos irmãos Felipe e Henrique Fernandes, justamente para levar dicas e informações sobre ferramentas de IA para as comunidades. O objetivo é também de gerar identificação com jovens periféricos e apresentar ferramentas gratuitas que podem ser usadas para diversos fins, de edição de vídeo a produção musical a programação, como uma forma de gerar renda extra. Mas diferente da Aitana, o perfil tem mais dificuldade de gerar engajamento e ampliar sua base de seguidores. Por que será? De um lado, por ser uma tendência ainda tímida no Brasil. Por outro, quando analisamos alguns dos perfis mais populares e que estão chamando atenção fora do país, fica a impressão de que o que impulsiona a maioria deles é a capacidade de alcançar uma perfeição e nível aspiracional ainda maior do que os influenciadores de carne e osso. E isso não costuma colar aqui no nosso país! Afinal, no Brasil, a autenticidade e o espírito “gente como a gente” são tendências de influência²
Por mais que os influenciadores de IA não se envolvam em crises, não fiquem cansados, não envelheçam ou adoeçam, ou até ajudem a otimizar custos de campanhas, é bem difícil que seus conteúdos capturem o mesmo nível de autenticidade e capacidade de identificação que influenciadores humanos. Como já falamos em outro capítulo, a vocação da influência ainda está concentrada nas comunidades e na capacidade desses criadores de se conectarem com seu público através de suas experiências, opiniões, personalidade e autenticidade, que ressoaram com consumidores e os transformaram em pontes para as conversas das marcas.
Então, a resposta é não. Influenciadores de IA não estão destinados a substituir os influenciadores humanos, mas sim a coexistir como uma possível vertente dentro do ecossistema da influência. Enquanto os influenciadores humanos trazem autenticidade e emoção para o conteúdo, a IA pode oferecer uma abordagem diferente, com novas possibilidades de criação, engajamento e interação, mais uma vez, provando a capacidade que a influência tem de se reinventar.
¹Creators & Negócios 2023, YOUPIX | ²Quem te influencia, Mindminers e YouPix. 2023
Beatriz Belangier