Pesquisa que acaba de ser lançada pelo Reuters Institute revela traços interessantes sobre o uso da IA Generativa, a percepção de seu impacto na sociedade e a sua relação com o jornalismo em seis países _ Argentina, Dinamarca, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido.
Ainda que o Brasil não conste desse levantamento, vale a pena acompanhar os resultados, dada a dimensão do impacto esperado da IA Generativa sobre nossas vidas.
A ferramenta mais reconhecida pela população dos seis países é o ChatGPT, mas a sua utilização regular é ainda bem limitada. O uso diário, por exemplo, é apontado por apenas 9% dos jovens de 18 a 24 anos, caindo para 1% dentre aqueles com mais de 55 anos. As respostas que predominam, em todas as faixas etárias, são a de já terem experimentado “uma ou duas vezes” – 17% dos jovens até 24 anos e 13% dentre os entrevistados de 45 a 54 anos, por exemplo.
Os dados sugerem que a maioria das pessoas utiliza o ChatGPT para criar conteúdos em texto, áudio e vídeo (28%) e obter informações variadas (24%). Apenas 5% dos participantes da pesquisa apontam o uso da IA para obter as últimas notícias.
Em outro extremo, 19% das pessoas nos EUA e 30% no Japão nunca ouviram falar de chatbots de IA, apesar de ambos os países concentrarem grandes empresas de tecnologia.
A maioria dos entrevistados acredita no grande impacto da IA generativa em todos os setores da sociedade nos próximos cinco anos, variando de 51% especialmente nos partidos políticos e 66% tanto no jornalismo como na ciência.
Mas não há consenso sobre o impacto ser mais positivo ou negativo para a sociedade. Muitos entrevistados preferiram dizer que ainda não sabem avaliar. De uma forma geral, o otimismo predomina quando se pensa em avanços na ciência, medicina e em atividades rotineiras, incluindo o entretenimento. Por outro lado, a visão se torna majoritariamente pessimista para temas como custo de vida, empregos e notícias.
A pesquisa traz aspectos bem interessantes também na percepção das pessoas sobre o jornalismo com a IA generativa. Em geral, fala-se em ser menos confiável, mas também de custo menor para os veículos de imprensa. As pessoas preferem notícias produzidas por humanos, mas se sentem confortáveis com o uso da IA para certas tarefas.
Segundo a pesquisa, a grande maioria dos entrevistados acredita que os jornalistas já estão usando IA generativa para revisão ortográfica e gramatical (43%) e elaboração de manchetes (29%). Mas, para 27% das pessoas, a ferramenta já está sendo usada para escrever artigos. E corroborando com o dado de preferência por humanos, um terço dos entrevistados acredita que editores sempre checam conteúdos, para garantir que não haja publicação de erros.
É importante destacar que os jovens são mais propensos a se sentirem confortáveis com notícias produzidas total ou parcialmente por IA. Nestes casos, o público tende a preferir que seja usada em editorias como moda e esporte do que em seções que lidam, por exemplo, com política. Ainda assim, ter o seu uso para gerar uma imagem, quando uma foto real não está disponível, e criar apresentadores virtuais é majoritariamente visto como algo desconfortável.
E vale a pena pagar por notícias generativas? Para 41% dos participantes da pesquisa, a resposta é “não”, porque serão menos valiosas do que as produzidas por humanos. O equilíbrio na utilização da IA, portanto, para aumentar eficiência, sem perder credibilidade, parece ser o novo desafio para os veículos de comunicação.
A pesquisa pode ser conferida aqui: What does the public in six countries think of generative AI in news? | Reuters Institute for the Study of Journalism (ox.ac.uk)
Ela foi realizada entre março e abril deste ano, ouvindo cerca de duas mil pessoas em cada um dos seis países.
Carina Almeida, sócia-presidente da Textual