Aí vai uma declaração forte: acho que toda criança LGBTQIAP+ teria desistido de viver se não fosse por aliados que encontrou na sua jornada. Eu, por exemplo, cresci achando que tinha algo de errado comigo. Só comecei a pensar diferente porque ouvi de algumas pessoas que estava tudo bem. É colossal o poder que têm as palavras de alguém de fora da nossa comunidade. Uma simples fala ou demonstração de apoio pode ressignificar um milhão de insultos. É nessas simples demonstrações de apoio que ouvimos quando menores que nos apoiamos pelo resto da vida. Pode ser aquela professora de arte ou aquele tio desconstruído. Eu nunca esqueci o “te amo incondicionalmente” da minha mãe.
Afinal, se nunca tivéssemos ouvido de algum heterossexual que está tudo bem ser lésbica, pansexual, bissexual, transexual, gay, ou qualquer outra letrinha, passaríamos a vida inteira achando que nossa existência era um erro. Então não é difícil concluir que um grande indicador de progresso contra a homofobia numa sociedade é a quantidade de pessoas que veem a homossexualidade pelo que ela é — algo que apenas é, não determina caráter, não é algo que se escolhe e é tão aleatório quanto gostar de alface ou não.
As marcas de empresas também são importantes aliados. Ao afirmar que a homofobia não faz sentido, elas impactam uma abundância de gente LGBTQIA+ porque ajudam a validar a vida dessas pessoas como a de qualquer outra. Além desse importante papel social, há uma série de evidências de que companhias que apoiam a diversidade lucram mais. “[Empresas diversas são] um caso irrefutável de retorno financeiro”, afirma o mais recente relatório sobre o assunto da consultoria McKinsey.
Então você deve entender o meu espanto quando li esta reportagem do Meio & Mensagem discutindo um possível declínio no número de marcas se posicionando no mês do Orgulho neste ano, tanto aqui quanto nos Estados Unidos. A decisão de uma companhia de não fomentar a diversidade no espectro LGBTQIA+ vai literalmente contra o objetivo primordial da sua existência — que é exatamente ganhar dinheiro. Pela primeira vez, vimos neste mês menos aliados e ainda há companhias tomando decisões incoerentes — andando para trás até na rota do capital.
Fabrício Bernardes