Escuto cada vez mais frequentemente profissionais muito inteligentes dizendo que as criptomoedas serão o futuro do mercado financeiro. Não trabalho com futurologia, mas posso falar do presente. Aqui e no mundo inteiro elas já são uma realidade.
Mais de 1,3 milhão de brasileiros investem em criptoativos no país. Para se ter uma ideia de quão relevante é esse número para o nosso setor financeiro, a B3 (bolsa do Brasil) tem 4,2 milhões de investidores pessoa física. No Japão, já são uma forma legal de pagamento para comprar qualquer coisa. Na Suíça, os principais bancos aceitam depósitos em criptomoedas e o governo as aceita para pagar impostos. Em El Salvador, na América Central, o bitcoin, a mais famosa de todas, é literalmente a moeda oficial da nação desde 2021. Logo, potencial elas têm.
Porém, no Brasil, encaram um complexo e moroso processo de regulamentação, são consideradas pelas autoridades como um ativo de investimento e não como uma forma de pagamento para o dia a dia, enfrentam forte concorrência dos grandes bancos e credenciadoras, entre outros.
Enfim, desafio para as criptomoedas é o que não falta no Brasil. Mas pouco se fala da grande encruzilhada de comunicação que essas empresas têm pela frente. Ainda que resolvam os impasses que citei acima, os esforços vão pouco adiantar se o brasileiro não souber o que são, para que servem e quais são seus benefícios.
Inerentes à sua existência, as criptomoedas têm uma capacidade de subverter completamente o sistema financeiro com o qual estamos acostumados. Ao contrário das moedas fiduciárias (as oficiais dos países), criptomoedas não sofrem inflação. E até pouco tempo muitas estavam valorizando absurdamente. Elas teoricamente não requerem a participação de nenhum intermediador para concluir uma transação de compra. Portanto, ao eliminar o pedágio que os lojistas pagam para as empresas de maquininha de pagamentos, como as gigantes de capital aberto Cielo e Rede, podem promover uma diminuição geral dos custos de produtos que compramos com o cartão.
E tem mais: um bitcoin, um ethereum, são moedas internacionais. Ou seja, têm potencial para acabar com a desvalorização de moedas de países em desenvolvimento. A lógica é simples. Se eu ganho 1 bitcoin de salário aqui no Brasil, ele vale a mesma coisa nos Estados Unidos, na França, no Reino Unido, onde for. Por outro lado, se eu tenho um salário de R$ 10 mil aqui, ele vale cerca de US$ 2 mil nos Estados Unidos. Além disso, são mais fáceis de mandar de um país para outro do que as moedas tradicionais, transferidas internacionalmente em sua maioria pelos bancos mediante processos morosos e pouco acessíveis. Por pura necessidade, dois países próximos da gente descobriram os benefícios das criptomoedas e avançaram muito na sua utilização.
Os argentinos, que a todo mês perdem considerável poder de compra devido à alta inflação que assola o país há décadas, descobriram justamente que as criptomoedas não desvalorizam com o tempo. Os mexicanos, que têm uma economia e população muito vinculada aos Estados Unidos, perceberam quão fácil era transferir dinheiro de um país para o outro.
Não é à toa que as duas maiores companhias de negociação de criptomoedas da América Latina são do México e da Argentina. Ambas embarcaram no Brasil recentemente com expectativas altíssimas para conquistar um mercado de 214 milhões de pessoas. O apetite das duas é tamanho que os CEOs das duas companhias deixaram seus países de origem e se mudaram para São Paulo.
Mas como explicar as vantagens de uma criptomoeda para um país em que menos de 2% dos habitantes investe na bolsa, cuja demanda por transferências internacionais é relativamente baixa e cuja moeda, o Real, transformou nosso problema com a inflação, outrora tão temida pelos brasileiros, numa lembrança distante para metade da população e para o resto, numa época aprendida nos livros de História?
Além disso, elas são seguras? O que as garante? O processo pelos quais se originam – chamado de mineração – é bastante complexo. Assim como a tecnologia que a garante – o blockchain. E como acanhar as desvantagens das criptomoedas? Nem tudo são flores. Elas não são perfeitas. São extremamente voláteis. Além disso, o bitcoin é um dos principais meios de pagamento na dark web, onde se compra itens como armas e bombas. Também fica a dúvida sobre qual comprar, em qual apostar. Existem mais de 9,5 mil criptomoedas atualmente no mundo. Cada uma afirmando possuir origens, funções e objetivos distintos. Qual delas vai perdurar? Todas? Apenas uma? Como disse, não trabalho com futurologia.
Mas de uma coisa tenho certeza – as estratégias de comunicação que as rivais adotarem serão condição implacável para obter êxito aqui. Porém, sempre que possível, gosto de ressaltar que comunicação não é uma ciência e muito menos exata. É impossível prever com completa acurácia seus efeitos e resultados, nem quanto se deve gastar para atingir objetivos complicados, como dosar os esforços qualitativos com os quantitativos, quais canais utilizar, com que frequência, que tipo de mensagem, que tipo de tom, com qual público começar, qual será mais receptivo…
Essas são apenas algumas das várias incógnitas que evidenciam quão complexa e ao mesmo tempo tão essencial para o sucesso de qualquer empresa é a profissão de todos aqui na Textual.
Fabrício Bernardes